O be-a-bá passei a me familiarizar bem antes de ir para o grupo escolar. E no Osvaldo Aranha, recém inaugurado na rua Lindóia, tive a oportunidade de desenvolver outras habilidades. Uma delas foi a leitura, que a professora Maria da Graça Dobner, no nosso terceiro ano, em 1965, incentivou com intensidade. Na prova de fogo, em pé na frente da turma, li algumas curiosidades que a revista Intervalo trazia semanalmente sobre as novidades da televisão, uma peça que não tínhamos em casa e precisávamos recorrer ao televizinho. Conseguiu dar ritmo, entonação de voz e uma dicção audível para a plateia, tudo sem gaguejar diante dos colegas de sala de aula. A nota foi boa, afinal fiquei entre os três melhores, junto com Claudio Piazera e Jorge Wunderlich.

Estava ali um aluno satisfeito. O que não esperava que aquela "apresentação" para a turma da classe poderia render uma surpresa. Sem esperar, logo após a formação no pátio antes de mais um dia de aula, era para cada turma ir para sua sala. Fiquei só no achismo. Era ali o verdadeiro teste, já que estava reservada uma solenidade cívica. Me deram um livro, aberto na página certa, e recebi a ordem: "Leia na frente do microfone". Se tratava de um poema de Olavo Bilac, que deve ter ficado horrorizado com as seguidas atravessadas que dei no texto.

A voz que saia de minha boca soava estranho ao me ouvir no autofalante. O eco me deixou traumatizado por muito tempo. Não poderia imaginar que uma simples aula de leitura poderia me render no futuro um caminho profissional. Sempre relutei pelo rádio, pelo fato de Joinville ter vozes fantásticas. Não seria eu, com voz de taquara rachada, que poderia preencher o éter.

Em janeiro de 1991, quando José Mira fez o convite para ingressar na equipe de esportes da Difusora AM 1480, a primeira lembrança que me veio foi o eco do autofalante da escola. Precisei de muito tempo para tirar este fantasma da memória. Consegui levar em frente, com a dicção como principal recurso.

PUXÃO DE ORELHAS

As manhãs de sábado ficavam sempre reservadas para as solenidades cívicas. Daquela vez, seria diferente. É que a supervisora escolar estava nos olhando e fazendo observações. Tratava-se da professora Judith Diniz Martins. Enquanto a atenção de todos estava na nossa frente, onde o roteiro previa os hinos de exaltação ao patriotismo, como estava entre os últimos da fila, não tive como me conter e fiz uma observação sobre a presença da supervisora: "Ela é mais alta que a antena do Canal 6" (a repetidora da emissora de televisão do Paraná instalada no morro do cemitério dos imigrantes).

Calado ficaria melhor para mim. E aquela infâmia me causou um grande puxão de orelhas de uma professora que estava bem do meu costado, que ainda me deu o recado: "Não fala assim da nossa estimada supervisora". Anos depois, a professora Judith seria colega de trabalho na 5ª Ucre (coordenação regional de educação), onde ela era a chefe da divisão de pessoal e eu o assessor de imprensa, sempre com respeito mútuo e desta vez ficando na mesma altura em estatura.

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Esta é uma das crônicas que fazem parte de uma futura publicação, que terá o nome de "Glória´s do Menino Jornalista", uma coletânea de textos em que relato fatos marcantes de minha vida e a trajetória no jornalismo joinvilense e catarinense. Apoiadores e patrocinadores são bem vindos. Aguardo seu contato para prestar mais detalhes.Aguardo pelo seu contato através do e-mail: rdbjoinville@gmail.com